O Grau de Aprendiz na Maçonaria: História, Simbolismo e Ensinamentos (3/3)

aprendiz

Qual será a visão litúrgica do Grau de Aprendiz? A Ma­çonaria, sabemos, tem o seu funcionamento interno sempre ligado a uma liturgia, de acordo com cada Rito Maçónico.

O Apr∴ entrou para a Ordem via litur­gia, através da Iniciação Litúrgica. O seu primeiro contacto com as verdades veladas da Ordem foi colocado ao seu alcance via litur­gia, através dos Símbolos e da educação iniciática, que principiou com a aprendizagem das provas durante a Cerimónia de Ini­ciação.

O funcionamento normal da Maçonaria enquanto realidade interna é feito semanal­mente através da liturgia, quando a Ordem realiza as suas Sessões semanais, e também nas outras actividades litúrgicas que desen­volve.

Portanto, a Maçonaria é plena de liturgia. Não é, entretanto, apenas liturgia. É Simbó­lica, Iniciática, Filosófica, Educativa. Mas, uma das maneiras de se poder penetrá-la é através da liturgia.

No Grau de Apr∴, e em todos os Graus é a liturgia que determina a execução do Ri­tual via ritualística, que poderemos concei­tuar como a liturgia em funcionamento.

Uma visão litúrgica do Grau de Apren­diz, remete-nos, em primeiro lugar à Cerimónia de Iniciação, onde o aspirante en­trou em contacto com os Símbolos Maçónicos e, foi aprovado nas provas simbólicas a que foi submetido.

A Sessão Maçónica que denominamos económica, aquela que se realiza a cada se­mana, é feita através da liturgia do Grau de Aprendiz.

É através da liturgia que podemos vivenciar os aspectos iniciáticos da Sessão Maçónica económica, que é constituída da abertu­ra e do encerramento dos trabalhos. Se nos ativermos ao significado ou aos significados contidos na abertura e encerramento dos trabalhos, iremos ver que não se trata ape­nas de bater Malhetes, mas de um ensina­mento litúrgico que tem permitido a Ordem sobreviver ao longo do tempo.

A liturgia da abertura e encerramento dos trabalhos maçónicos, no nosso caso, no Grau de Aprendiz, faz com que possamos entender um pouco o universalismo da Or­dem.

Um dos actos litúrgicos mais importantes é quando o Orad∴ abre o Livro da Lei, que no caso dos Maçons cristãos é a Bíblia Sa­grada. Nesse momento, o Orad∴ é o Ofi­ciante (ou quem executar o acto litúrgico de abrir e fechar o Livro da Lei). Nesse caso, o simbolismo da Lei Moral é quem guia o guardião da Lei Maçónica e orienta os usos e costumes.

O Esquadro e o Compasso sobre o Livro da Lei, quando liturgicamente colocado, põe a Ordem, os presentes à Sessão, simbolica­mente, sob a protecção da Lei Moral que de­verá reger os destinos da Ordem e dos Ma­çons.

Quando o Ven∴ M∴ abre os trabalhos em nome do GADU e de São João, o nosso padroeiro, está praticando um acto de eclectismo maçónico, onde o GADU é síntese do Deus pessoal de cada um de nós, sem que deixemos de ado­rar o nosso Deus particular. Ali, entretanto, está a fórmula neutra que permite abarcar o enunciado universal do Ser Supremo.

Portanto, não é perda de tempo quando executamos a liturgia maçónica como deve ser executada. Se a todo momento, utilizan­do o adiantado da hora para suprimirmos parte do Ritual, iremos transformando-nos, paulatinamente, numa instituição profana, como tantas outras que existem na socieda­de onde estamos vivendo.

A liturgia é a via pela qual o Aprendiz se pode aperceber da verdade velada dos Símbolos, absorver a atmosfera esotérica da Sessão Maçónica, nos seus mais variados as­pectos.

Uma visão ritualística do Grau de Aprendiz

A visão ritualística do Grau de Aprendiz, e de todos os Graus Maçónicos, está inti­mamente ligada à Liturgia do Grau. Em verdade a ritualística é que torna possível a execução da liturgia.

É como se tivéssemos um sistema viário, com todos os meios de transporte, as estra­das, as ferrovias, as aquavias e, para fazer is­so funcionar, precisássemos da ritualística, das normas que regem este imenso sistema que é a liturgia e a ritualística maçónica.

O Aprendiz e quem participa da Sessão do Grau de Aprendiz tem que estar atento à sua prática conforme o Rito, de maneira que não sejam trazidas para a Loja invenções que desfigurem o Rito e, sobretudo, deve ser praticada sem supressões e nem inter­rupções.

Por exemplo, não deveria ser permitida a entrada do Maçom na Loja em funciona­mento sem as formalidades. A marcha do Apr∴ (e dos outros Graus) tem uma im­portância muito grande para a aprendizagem na e da Ordem. Tanto para quem está exe­cutando, quanto para quem participa como membro da Assembleia Maçónica.

Todos os Membros da Oficina deveriam ter oportunidade de circular no Templo ritualisticamente, em especial como M∴ de CCer∴. Ali, não se trata de um M∴ de CCer∴ como existe na sociedade profana, ali ele é, dentre outras coisas, o Ordenador do Caos.

Quando o M∴ de CCer∴ compõe a Loja, a ritualística que executa tem um signi­ficado transcendental, posto que antes da Loja funcionar o que reina é o caos do mun­do profano. Quando anuncia que todos estão nos seus lugares, com as suas insígnias, e os objectos litúrgicos estão nos seus lugares, está informando ao Ven∴ que o microcos­mo que é a Loja está ordenado.

Não existe mais, dali para frente, o mun­do profano, mas o mundo próprio da Maçonaria no seu aspecto substantivo que é exer­cido num locai sagrado, o Templo. A ri­tualística repete os arquétipos maçónicos e com isso, mantemos vivo o esoterismo da Ordem.

Embora não nos apercebamos, o execu­tar da ritualística é uma aprendizagem do mais alto valor esotérico. Sem ela não poderia existir este outro conhecimento, este conhe­cimento mais profundo da Ordem, que é esotérica, simbólica.

Daí a nossa responsabilidade enquanto MM∴ Maçons, de executar a ritualística conforme determina o Ritual e os nossos usos e costumes.

Uma visão administrativa do Grau de Aprendiz

Tenho defendido a tese de que em Ma­çonaria, a administração é exercida de duas maneiras. Uma, eminentemente administra­tiva, como o é em todas as organizações. A outra, é o que denomino de Administração Litúrgica Maçónica, aquela exercida quan­do a Loja está em funcionamento.

Uma visão administrativa do Grau de Aprendiz deverá proporcionar ao novel membro da Ordem como a Loja funciona administrativamente e outras unidades ad­ministrativas da Ordem. Qual a importância dos cargos e, a consciência de que quando tiver, também a Idade Iniciática própria, po­derá ocupar qualquer desses cargos, inde­pendentemente da sua situação na vida pro­fana.

Uma visão administrativa litúrgica deverá fornecer ao Apr∴ a importância para o funcionamento da Ordem que é ter uma administração que foge aos padrões normais da administração que conhecemos na vida profana.

Deveremos fornecer-lhe a visão que a administração litúrgica maçónica é a mais democrática que conhecemos. A qualquer momento somos chamados a ocupar um cargo litúrgico na Loja para que ela não dei­xe de funcionar, quando falta membro eleito ou designado.

Esta prática dá uma mobilidade muito grande à Maçonaria. Ela permite que, existindo um número legal de Obreiros, a Loja funcione liturgicamente, estando ou não todos os membros que foram eleitos presentes.

Assim, de repente, o Iniciado é o convo­cado pelo M∴ de CCer∴, o Ordenador do Caos, para ocupar o lugar do Secret∴, por exemplo, se para tanto verificar que o Inicia­do preenche os requisitos iniciáticos e litúr­gicos do Grau. A partir daquele momento, liturgicamente falando ele é o Secret∴ da­quela Sessão maçónica e exerce todas as funções litúrgicas, iniciáticas, simbólicas pró­prias do cargo.

E, não é apenas através do convite que ele se torna o Secret∴ daquela Sessão Maçónica. O seu desempenho é aprovado pela assembleia maçónica que está ali reuni­da.    .

Esta é a prática do que podemos deno­minar de democracia iniciática da Maçona­ria. Ali os iguais são todos iguais, não apenas enquanto indivíduos pertencentes à organi­zação para compor a sua assembleia, mas, de facto, para exercer a sua administração.

Além destes aspectos da administração litúrgica maçónica, existem os que são prati­cados pela administração no sentido profa­no, porque a Loja Maçónica é também uma organização como outra qualquer do mundo profano.

Ela está registrada nos poderes compe­tentes, pode ser reconhecida de utilidade pública, tem empregados, paga água, luz, te­lefone.

Enfim, exerce todas as funções adminis­trativas inerentes a qualquer organização no meio profano. A diferença é que ao lado dessas actividades puras de administração existem as litúrgicas.

Uma visão ocultista do Grau de Aprendiz

Lembremo-nos do início da nossa peça de arquitectura, de que o Irm∴ Aslan nos chama atenção para a influência do ocultis­mo no esoterismo maçónico.

A Maçonaria por ser ecléctica recebeu vá­rias contribuições de sociedades iniciáticas, esotéricas. O Irm∴ Aslan dá-nos uma pista de como esta herança existe na prática do nosso Ritual, no nosso esoterismo.

Diz-nos o Irm∴ Aslan na página 30 do seu Comentários ao Ritual de Aprendiz que:

“As colunas arquitectónicas, as figuras geométricas, as ferramentas profissionais, etc., revelam a sua origem operativa ou profissio­nal. O pavimento mosaico, as velas, o incenso, as Espadas e outros são elementos de ori­gem mágica. À Câmara das Reflexões, os Quatro Elementos: Terra, Ar, Agua e Fogo, os três Princípios procedem do Hermetismo. A numerologia forneceu o esoterismo dos nú­meros: o número 3, por exemplo, para citar só este, fornece ao Aprendiz a idade, a marcha, a bateria, o toque e tudo aquilo que se refere ao primeiro grau. A Cabala deu-nos o Delta Sagrado, o Tetragrama, o Selo de Salomão, além de todas as palavras sagradas, de passe e outras. A astrologia está presente na abóba­da celeste, nas doze colunas zodiacais, efe. quiromancia influiu nos toques, e assim por diante. ”

Portanto, aqueles que argumentam que não é necessário um conhecimento ecléctico para entender a Maçonaria, nunca se poderão aperceber dessas verdades internas da Ordem e que são o seu sustentáculo ao lon­go do tempo.

Uma visão religiosa do Grau de Aprendiz

A Maçonaria tem aspectos religiosos mas, a Maçonaria não é religiosa, pelo me­nos não é filiada a uma religião institucional, embora todos os seus membros ligados a Ri­tos teístas, o sejam.

A Maçonaria é religiosa quando incenti­va, recomenda que os seus adeptos tenham uma religião, professem um credo, ou utili­zando uma fórmula litúrgica que os Maçons cristãos adoptam, basta que se creia em Deus. Com esta crença adentra-se os portais do Templo. E com o GADU, abraça-se o Universalismo Maçónico.

As Constituições de Anderson de 1723 dizem que os Maçons devem

“praticar a reli­gião em que todos os homens estão de acor­do, deixando-lhes plena liberdade às con­vicções particulares “e que um Maçom”...se bem entender da arte, jamais será um estúpi­do ateu nem um libertino irreligioso. ”

Portanto, Anderson corrobora o nosso pensamento de que a Religião da Maçonaria não é uma religião institucionalizada, mas a religião da moral, como nos ensina o filósofo alemão e nosso Irm∴ J. G. Fichte:

“…existe… um especial conceito maçónico de religião e, por isso mesmo, também uma educação maçónica para a religião – enten­da-se à religião da moral, não eclesiástica, com a qual a Maçonaria nada tem a ver, ab­solutamente… (Filosofia da Maçonaria).

Mais adiante, Anderson nas suas Consti­tuições de 1723 diz-nos que

“…esta religião (na Maçonaria) consiste em serem bons, sin­ceros, honrados, de modo que possam ser di­ferenciados dos outros…

Os nossos Rituais reflectem este conceito de religião. Vejamos por exemplo que os Ri­tuais do REAA, Adonhiramita, York, afir­mam que o G∴ A∴ D∴ U∴ é invocado para ajudar a abrir a Loja e em Seu nome ela é fechada.

Também nestes Ritos a Bíblia Sagrada é aberta como o Livro da Lei nas Sessões Litúrgicas.

Se nos relembrarmos da nossa Iniciação, em determinado momento nos perguntam: “Credes num Ente Supremo?”, noutro, diz, “Se confiais em Deus…”. Aqui, também, dentro do ponto de vista religioso o que se pergunta ao aspirante é algo genérico e não uma crença específica.

Por último, a Grande Loja da Inglaterra sustenta como sempre sustentou, que a crença em Deus é a primeira e grande carac­terística de toda verdadeira e autêntica Ma­çonaria… Isso, numa declaração internacio­nal de 1885, conforme consta do livro O Conceito de Deus na Maçonaria, do Pe. Valério Alberton.

É dentro, pois, deste amplo conceito que deveremos entender a Religião do ponto de vista maçónico. Cada Maçom tem a sua reli­gião particular e a Maçonaria o conceito genérico que alberga todas as religiões e uti­liza a fórmula neutra GADU para designar o Criador dos Mundos, que para os cristãos é Deus.

Por ser tolerante, a Maçonaria proíbe que sejam discutidos assuntos religiosos e políticos no âmbito da Loja. São convicções pessoais que devem ficar apenas com as pes­soas. Assim, a paz e a harmonia da Ordem podem ser, de facto, praticadas.

Uma visão filosófica do Grau de Aprendiz

Para termos uma visão filosófica do Grau de Aprendiz, necessário se faz que tenhamos um conceito do que seja a Filosofia .da Ma­çonaria.

A Filosofia da Maçonaria é uma filosofia ecléctica e universalista não se filiando a ne­nhuma corrente filosófica em particular.

Quando analisamos as Constituições do Grande Oriente do Brasil, de 1839, 1907, 1938, 1962, 1977 e 1981 encontramos nelas, os princípios gerais da Ordem que podem ser resumidos assim: a fraternidade é a meta da Maçonaria, a filantropia a forma de exte­riorizar esta fraternidade com os que não são Maçons, a moral o seu princípio maior e o cumprimento do dever, a principal meta do Maçom, a prática das virtudes, a sua me­ta ética, a tolerância o seu princípio basilar que permite a convivência religiosa e políti­ca, a investigação da verdade, a forma da busca maçónica, a sua divisa, Liberdade, Igualdade, Fraternidade a meta maior do Maçom e da Maçonaria, a prevalência do espírito sobre a matéria o seu guia espiritual, as suas relações com o não-material, a con­denação de exploração do homem e das re­galias não devidas, uma das marcas do seu humanismo, o combate ao sectarismo e à ig­norância, uma parte do seu universalismo e o trabalho, a forma de agir no mundo profa­no e maçónico.

Estes princípios norteiam a Ordem em todos os tempos e, dentro deles deve pautar a sua acção cada Maçom em particular e toda a Maçonaria.

Particularizando um pouco a sua filoso­fia, indo para o campo da ética maçónica, encontramos já na Câmara das Reflexões o testamento feito pelo candidato à Ordem, que deverá continuar a ser o do Maçom: os deveres para com Deus (o GADU), a Humanidade, a Pátria, a família, o próximo e consigo mesmo. Estes deveres têm um sentido quando éramos profanos, tem o sentido da universalidade e do eclectismo maçónico quando adentramos os por­tais do Templo Maçónico, (vide meu livro Instruções para Loja de Aprendiz, o capí­tulo Os Deveres do Maçom).

Conclusões

As nossas conclusões são as seguintes:

Os pontos abordados não esgotam a visão do Grau de Aprendiz, apenas introdu­zem o assunto, devendo ser aprofundado posteriormente.

O Grau de Aprendiz Maçom, como os outros Graus, não pode ser estudado co­mo se faz com os assuntos da vida profana, necessitam de vivência na Sessão Litúrgica Maçónica. Somente esta vivência vai permi­tir a aprendizagem dos aspectos simbólicos, esotéricos, litúrgicos e ritualístico da Ordem.

Por último, só poderemos ter uma visão do Grau de Aprendiz Maçom se pudermos ser eclécticos e universalistas nas nossas po­sições, nos nossos estudos. Sem isto, quando muito nos aperceberemos dos aspectos exotéricos da Maçonaria. Nunca, dos aspec­tos interiores que mantêm a Ordem ao lon­go do tempo.

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