Administração participativa e vibrante na maçonaria

“Por que não repetir a presidência, mas renovar a maneira de pensar a liderança.”


Já estivemos à frente da Loja por duas administrações. A experiência, rica e exigente, deixou lições que hoje, se não me movem a buscar ou aceitar novamente o cargo de Venerável, me instigam a repensar como ele pode ser exercido.

E se eu fosse hoje Venerável novamente — o que não me parece desejável nem adequado, sob pena de parecer vaidade ou personalismo — com o bem-vindo amadurecimento moral que a vivência proporciona, não tentaria repetir o modelo anterior. Tentaria, sim, fazer uma administração mais fraterna, descentralizada, cooperativa e vibrante, sem, no entanto, “brigar com o sistema”.

Distribuição Real de Funções: delegar é confiar

A Maçonaria já prevê atribuições claras para cada Oficial da Loja. No entanto, muitas vezes essas funções se tornam simbólicas ou decorativas, enquanto o Venerável concentra responsabilidades, decisões e até angústias.

Uma administração moderna, consciente e fraterna deve valorizar e aplicar as funções regimentais de cada cargo — do 1º Diácono ao Orador, do Tesoureiro ao Mestre de Cerimônias — transformando-as em compromissos ativos.

Cada Irmão deve sentir-se responsável por sua parte da Obra. Delegar não é apenas dividir tarefas: é confiar, reconhecer talentos e fomentar o protagonismo e a autoestima dos Irmãos.

Prestação de Contas Simples, Verbais ou Escritas, Claras e Permanentes

Outro aspecto essencial seria implantar uma cultura de prestação de contas simplificada, porém regular — não apenas no aspecto financeiro, mas também nas atividades, iniciativas, resultados e dificuldades.

Cada Oficial poderia, de forma breve e objetiva, apresentar mensal ou bimestralmente seu “balanço simbólico” à Loja. Isso gera transparência, estimula o compromisso e fortalece os laços de confiança.

Por exemplo: os 1º e 2º Vigilantes devem ter conhecimento, em tempo real, das instruções teóricas e práticas dadas pela Loja às suas colunas e, se necessário, empenhar para o cumprimento dessas orientações e formações, tanto do Venerável quanto do Mestre de Instrução.

Valorização da Entrega e da Vibração

Mais do que resultados, precisamos de Irmãos vibrando em fazer. Que sentido há em um cargo bem exercido, mas sem alma, sem calor, sem alegria?
Uma boa administração identifica os talentos silenciosos, reacende o ânimo dos desmotivados e celebra as pequenas entregas com sinceridade. Uma Loja vibra quando seus Irmãos se sentem úteis, respeitados e valorizados.

O Venerável como Maestro, e não como Solista

O Venerável Mestre deve ser o condutor da harmonia dos Irmãos e das cunhadas em Colmeia, não o centro das atenções. É ele quem afina os instrumentos, mas não quem os toca.

Ele inspira, coordena, observa, intervém com discrição e sabedoria. Ser Venerável é ser servidor da construção coletiva — e não o protagonista da edificação.

A Mágica dos Recursos Humanos

Se o Venerável conseguir formar uma equipe comprometida e vibrante, sua gestão será naturalmente bem-sucedida.

  • Um 1º Vigilante que lhe dê segurança na substituição eventual, que zele por sua Coluna e inspire os mais novos em suas ascensões.
  • Um 2º Vigilante que cuide da Coluna do Sul com a mesma dedicação que o 1º cuida da do Norte.
  • Um Orador que conheça, possua e consulte a Constituição e o Regulamento Geral da Grande Loja de Goiás, bem como o Estatuto e o Regimento Interno da Loja, atuando como fiscal da lei como um promotor
    como o real suporte à Loja em suas decisões que se baseiam na lei.
  • Um Secretário atencioso, estudioso, tolerante e com tempo disponível para preparar a administração.
  • Um Tesoureiro honesto, organizado e habilidoso no trato com os contribuintes, prestando contas com pontualidade.
  • Um Chanceler fraterno, capaz de promover o intercâmbio social entre a Loja, os Obreiros e suas famílias, mantendo a Loja informada de seus movimentos.
  • Um Hospitaleiro empático, com verdadeira vocação para acolher e lutar por recursos aos mais necessitados.
  • Diáconos conscientes de suas incumbências, que cuidem da disciplina nas colunas, com moderação, fraternidade e educação.
  • Um Mestre de Cerimônias à altura do nome que simbolicamente carrega: ágil, observador, organizado, conhecedor da ritualística, disciplinado e amoroso.
  • Um Instrutor Litúrgico que goste de ensinar, estudioso do Rito, com boa didática e postura fraterna.
  • Um Mestre Arquiteto com tempo e zelo para preparar o Templo com antecedência, conforme o calendário das sessões.
  • Um Guarda do Templo colado no Grau de Mestre Maçom, consciente da responsabilidade de proteger os Irmãos e os segredos da Ordem.
  • Um Cobridor versado em ritualística, atencioso, responsável por decidir o que fazer com maçons e não maçons que se aproximam do Templo.
  • Finalmente um Mestre de Harmonia que compreenda minimamente de música e goste de emocionar os presentes, tocando-lhes o coração.

Esses perfis devem ser observados pelo Venerável Mestre antes das nomeações. É evidente que dificilmente encontrará exemplos ideais em todos os cargos. Mas é aí que entra o novo modelo de administração: junto aos Vigilantes, o Venerável pode implementar ensinos, roteiros, sistemas de prestação de contas e abordagens fraternas, inclusive por meio de pequenos cursos e encontros de capacitação.

Conclusão

Não é necessário voltar ao cargo para continuar servindo e inspirando. Às vezes, a melhor liderança é aquela que se dá pelo exemplo do que poderia ser feito — e não pelo exercício direto do poder.

A Maçonaria precisa de Irmãos que já foram, mas continuam sendo: Faróis serenos. Mãos discretas. Vibrações constantes.

E que inspirem administrações mais conscientes, descentralizadas e verdadeiramente fraternas.

Autor

Ir∴ Milton de Souza – M∴I∴
A∴R∴L∴S∴ União do Horizonte
G∴L∴E∴G

Compartilhe:

Posts Relacionados

plugins premium WordPress