Figura 8 – Quadro de Loja de Companheiro, Emulation Ritual
Em Inglaterra a utilização do Quadro de Loja só se fixou e, generalizou após o Acto de União de 1813, tendo os modelos ainda hoje utilizados nos Ritos Anglo-Saxónicos sido pintados por retratistas famosos, do princípio do séc. XIX, tais como John Harris (1791-1873) ou Josiah Bowring (1757-1832).
Nestes painéis, que se caracterizam por serem desenhados em perspectiva, representando cenas alegóricas que exprimem o simbolismo do Grau, abundam as cores utilizadas. A respectiva interpretação consta dos discursos dos Rituais de alguns dos “Workings”, como é o caso do Emulation.
Neste “Working”, o Quadro de Loja do Segundo Grau representa o percurso para a Câmara do Meio, na qual o Companheiro, nos Ritos Anglo-Saxónicos, recebe o seu salário.
Encontramos, pois, plasmada neste Painel a Escada em Espiral, que arranca do nível da base da Coluna B, e dá acesso a um piso superior.
As Colunas aparecem encimadas pelas duas Esferas, denotando a universalidade da Maçonaria.
Entre elas encontra-se representado o Rio Jordão, e a Espiga de Trigo, em alusão à Palavra de Passe do Grau.
A Escada compõe-se de três lanços, o primeiro com (Publicado em freemason.pt) três degraus, o segundo com cinco, e o terceiro com sete ou mais degraus, referindo-se estes números aos Irmãos que tornam uma Loja Justa e Perfeita.
Estes números simbólicos de degraus reportam-se ainda, o três a Salomão, Hiram de Tiro, e Hiram Abiff, o cinco às Ordens de Arquitectura e, o sete às Artes Liberais.
Uma vez chegado à Câmara do Meio, o Companheiro é confrontado com a Letra “G”, que representa o Supremo Geómetra do Universo, “a quem nós temos todos de submeter, e devemos muito alegremente obedecer”, reflectindo assim o texto do Ritual a linha Teísta do Rito.
Figura 9 – Quadro de Loja de Companheira, Rito de Adopção, Séc. XVIII
No Rito de Adopção, através do qual começaram a ser iniciadas Mulheres, no século XVIII, o conteúdo simbólico baseia-se, essencialmente, em vários temas vétero-testamentários.
Os Painéis do Segundo Grau deste Rito são, pois, substancialmente diferentes dos ligados aos Ritos, à época, exclusivamente masculinos, mais centrados na (Publicado em freemason.pt) construção do Templo de Salomão. Os relativos à Maçonaria de Adopção exibem, assim, imagens alusivas aos temas centrais da Companheira Maçona, a tentação de Eva pela Serpente e, a Queda do Jardim do Éden.
Por último assinale-se que os Quadros de Loja do Rito Escocês Rectificado, por obedecerem a directrizes constantes dos Rituais de Willermoz, de 1782, são os que reflectem mais a prática do século XVIII. 25
O Painel de Loja de Companheiro do RER difere do de Aprendiz apenas pela exibição da letra B, evidenciada a meio do fuste da Coluna do Meio-Dia, apresentando em tudo o mais a mesma simbologia e distribuição.
Para além do Quadro de Loja, no RER existe, ainda, um Quadro do Grau, colocado em frente ao altar do Venerável.
O do Segundo Grau, subordina-se à divisa “Dirigit Obliqua”, encontrando-se nele representada uma Pedra Trabalhada, com geometria Cúbica, sobre a qual assenta um Esquadro.
O segundo Grau Rectificado é, de longe, aquele que se afasta mais da Tradição Maçónica Francesa, no qual as viagens, reduzidas a três, perderam todo o seu significado operativo, centrando-se no despojamento dos Metais (Prata-Bronze-Ferro).
Figura 10 – Quadro de Loja de Companheiro, RER, Séc. XX
O Companheiro Rectificado é instruído que o Homem deve desembaraçar-se das impurezas grosseiras, se pretende aceder à vida do Espirito, sendo este despojamento análogo ao trabalho sobre a Pedra.
A Pedra Polida do Quadro do Grau representa, pois, o Trabalho sobre si próprio já desenvolvido, sendo a verificação do mesmo, pelos Mestres, representada através do Esquadro.
Este Quadro é sempre desenhado em branco, sobre fundo negro, em analogia com o teor do Prologo do Evangelho de João, segundo o qual “A Luz brilha nas trevas, mas as trevas não a compreenderam”.
Para além de conter os símbolos do Grau, o Quadro de Loja de Companheiro é, por si só, um símbolo, que assume, no REAA, um papel indispensável, tal como já acontecia no Grau anterior.
Ao sobrepor-se, na Abertura dos Trabalhos, ao Painel de Loja de Aprendiz, reflecte o princípio de que uma Loja em Segundo Grau assenta sobre uma Loja em Primeiro Grau, o que simboliza, também, que os Graus Maçónicos são cumulativos, não se deixando de trabalhar como Aprendiz, por se ter sido recebido como Companheiro.
Como “caixa de ferramentas” de suporte dos Trabalhos dos Companheiros, o Tapete de Loja reveste-se de uma riqueza pedagógica excepcional, permitindo uma reflexão simbólica extremamente profícua, que possibilita a cada Irmão ir acrescentando o seu contributo às primeiras letras, que os Irmãos, por quem anteriormente circulou a palavra, lhe dão.
Figura 11 – Quadro do Grau de Companheiro, RER, Séc. XX
De tudo o atrás exposto, podemos concluir que o Grau de Companheiro do REAA, do qual o seu Quadro de Loja é um reflexo, foi ganhando, ao longo do tempo, uma identidade própria, encontrando-se-lhe associada uma grande riqueza simbólica, construída à custa de sincretismos de múltiplas proveniências e, de um elevado sentido Humanista, fruto de influências de diversas correntes filosóficas, algumas delas com sentidos bem antagónicos.
Tal configura, para o Companheiro Escocês actual, um percurso abrangente, que tanto religa à Coluna de Pitágoras como à de Hermes, assentando, pois, numa base de pensamento simultaneamente Racionalista, e Espiritualista.
Depois de ter trabalhado a Pedra Bruta, adquire, nesta etapa, as Ferramentas Simbólicas e, os Meios de Conhecimento, que lhe permitirão edificar o seu Templo e, tornar-se nessa (Publicado em freemason.pt) Estrela, que ressalta a elevação do Humano a um Plano Superior, reunindo em si o que está em cima, ao que está em baixo, e flamejando em Amor por esta Humanidade, em cuja Grande Obra de Construção é, aqui e agora, chamado a ser Pedra Trabalhada.
Tal é a riqueza, e a importância, de que o Grau de Companheiro se reveste no Escocismo, reflectindo a história das suas representações iconográficas uma mensagem fundamental, que permite tornar a nossa visão substituída, de Maçons contemporâneos, numa visão reencontrada, pela compreensão da cadeia iniciática subjacente, e do corpus simbólico-esotérico que a sustentou.
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